Recentemente, o Ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, fez uma declaração polêmica durante um evento em Brasília, aludindo ao ouro retirado do Brasil durante a colonização portuguesa. A fala surgiu em resposta a um caso de xenofobia contra uma brasileira em Portugal e gerou discussões e memes nas redes sociais. Mas o que realmente aconteceu com o ouro que o Brasil forneceu a Portugal?
A exploração do ouro no Brasil teve início antes do Ciclo do Ouro, no início do século 18, com descobertas em Minas Gerais no final do século 17. Estima-se que a produção brasileira durante o século 18 tenha sido entre 876.629 e 948.105 quilos, de acordo com historiadores como Virgílio Noya Pinto e Pandiá Calógeras. Para efeito de comparação, em 2019 o Brasil produziu cerca de 87 mil quilos de ouro, com técnicas de extração bastante avançadas em relação ao período colonial.
A maior parte do ouro extraído foi direcionada para a Europa, especificamente Portugal. No território português, o ouro financiou diversas obras públicas, como o imponente Palácio Nacional de Mafra. No entanto, grande parte desse metal precioso encontrou seu caminho até a Grã-Bretanha. A relação comercial desigual, marcada pelo Tratado de Methuen de 1703, resultou em um fluxo maciço de ouro brasileiro para a Inglaterra. Esse ouro, crucial para o desenvolvimento econômico britânico, ajudou a financiar a Revolução Industrial e a transformação financeira global.
A exploração do ouro teve um impacto profundo na economia e na sociedade brasileira. A economia colonial, antes concentrada no litoral, expandiu para o interior, e a demanda por escravizados aumentou significativamente. O número de africanos trazidos para o Brasil no século 18 saltou de 910 mil para 2,2 milhões, e muitos deles foram empregados nas atividades mineradoras.
A declaração de Flávio Dino e os memes que surgiram em torno dela destacam uma discussão mais ampla sobre a herança colonial e suas implicações duradouras. O ouro que Portugal extraiu do Brasil não apenas moldou o desenvolvimento econômico europeu, mas também deixou uma marca indelével na sociedade e na economia brasileiras. O legado desse ciclo de exploração continua a influenciar o Brasil até hoje, evidenciando a complexa rede de impactos históricos globais.