Em meio aos esforços para conter a inflação, o governo brasileiro estuda alternativas inovadoras para reduzir o custo de vida. Uma proposta em análise é a liberação da venda de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) em supermercados, cuja discussão está ativa na Câmara dos Deputados.
A medida pretende permitir que redes de supermercados aumentem sua rentabilidade, potencialmente utilizando margens mais elevadas obtidas com a venda de medicamentos para controlar o aumento dos preços dos alimentos. Entretanto, essa estratégia enfrenta críticas significativas, especialmente no que se refere à sua efetividade em conter a inflação alimentar.
Qual é a Relação entre MIPs e a Inflação Alimentar?
Os analistas, como os do Itaú BBA, levantam dúvidas sobre a capacidade dessa medida em combater a inflação dos alimentos. Os MIPs, atualmente comercializados nas farmácias, representam uma parte considerável de suas receitas, mas as margens sobre esses produtos são bem maiores do que as dos alimentos.
Enquanto os medicamentos isentos de prescrição apresentam margens brutas entre 30% a 35%, os produtos alimentícios variam entre 16% e 20%. Essa disparidade sugere que, embora os supermercados pudessem lucrar mais com a venda dos MIPs, não há garantias de que esse lucro seria revertido para redução dos preços de alimentos.
Desafios e Implicações para Supermercados e Farmácias
Além das questões econômicas, existem desafios significativos para a implementação da venda de MIPs em supermercados. Custos adicionais relacionados a requisitos sanitários, contratação de farmacêuticos e adequação de infraestrutura podem corroer os potenciais benefícios financeiros para as redes de varejo alimentar.
As farmácias, que atualmente contam com exclusividade na venda desses medicamentos, podem sofrer impacto negativo significativo. Com MIPs representando cerca de 15% de suas receitas, a migração de vendas para supermercados poderia alterar drasticamente sua dinâmica de negócios.
Preocupações com a Automedicação
Um dos principais desafios à implementação da proposta é a questão da automedicação. No Brasil, a automedicação é uma das principais causas de intoxicação, um ponto levantado frequentemente no debate sobre a venda de MIPs em supermercados. Essa preocupação persiste e reflete-se na resistência de órgãos regulatórios e da sociedade em geral em mudar o atual modelo de distribuição destes medicamentos.